Archive for agosto 2010

Querida Lei de Murphy


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"Se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará!" 
É provável que 98% do mundo conheça a lei de Murphy. Caso não, você já deve ter vivido essa lei. Sabe  aquele dia que nada pode dar errado, e dá? E da pior forma possível? Ou tudo leva mais tempo do que o tempo que você tem disponível? Ou a torrada cai sempre com a manteiga virada para baixo?
Com o tempo aprendi a rir dessa lei. Acho que o ultranegativismo se torna engraçado se olharmos a vida com outros olhos. Uma hora vamos ter que nos conformar que a vida não é perfeita. E que gastamos um tempão dando importância às nossas preocupações, quando, na verdade a preocupação não irá garantir o sucesso total. As noites mal dormidas, o choro, o nervosismo e tantas coisas negativas não farão com que algo se torne positivo. Não adianta.
Eu mesma estava fazendo um projeto. Recolhi todas as informações necessárias, fiz tudo que deveria ser feito. Mas não dava pra garantir que daria tudo excepcionalmente certo. Não dá pra imaginar o que pode acontecer. Então, se eu fiz tudo que podia, agora era apenas esperar pelo resultado. E como a lei de Murphy costuma acontecer nas horas impróprias, deu uma coisinha errada que poderia colocar tudo a perder. Mas e aí? Adiantaria eu matar o gato da vizinha (odeio gatos, sorry) por causa disso? Aconteceu? Então, vamos achar a solução. E se não houver? Continue. Existe a oposição. Vamos ter que lidar com ela. E eu acabei descobrindo que dá pra lidar com ela, e com ótimo humor ainda. 
Quando eu acabei não ligando ou me desesperando para o problema, ele acabou sendo resolvido sem que eu esperasse. Temos que fazer o que estiver ao nosso alcance sem esperar que as coisas (boas ou ruins) aconteçam.


Marcos estava atrasado. O despertador havia quebrado justo no dia de sua apresentação na faculdade. Encheu um copo de leite e quando tomou um gole sentiu o gosto horrível descendo em sua garganta. Havia trocado açúcar por sal.
Deixou o copo de lado e foi procurar suas chaves. Quinze minutos depois, ele as encontrou ao lado do açúcar. Resmungando, chutando e derrubando tudo pelo caminho foi até a porta, girou uma chave e a quebrou. Ligou correndo para o chaveiro. Depois de quase 1 hora, o problema foi resolvido. Desceu correndo as escadas do prédio, afinal, pensou, o elevador também poderia quebrar.
Mas no fim da escadaria ele tropeçou no balde de tinta. O zelador estava pintando os corredores do edifício. Depois de milhares de reclamações, quando colocou o pé da rua, leu: rua interditada. Agora, ele deveria andar cinco quadras  até o próximo ponto de ônibus.
"Não acredito, justo hoje. Em um dia tão importante!"
Quando havia acabado de gritar isso para si mesmo, uma bicicleta o atropelou. Cheio arranhões e muito dolorido, ele resolveu voltar para casa. Usou o elevador. Que parou no terceiro andar e depois de 20 minutos voltou a funcionar. Em sua casa, se atirou no sofá. E então, o telefone tocou. Marcos olhou com espanto para o aparelho, com medo da notícia que poderia vir. Resolveu atender:
— Marcos! Você não vem pra cá? — disse Denise, sua colega da faculdade.
— Ah, infelizmente não.
— Tudo bem, então...
— Hein? E o professor? Ele deve estar morrendo de raiva!
— Ah, está sim. Mas não por você. Acontece que o carro dele quebrou no meio do caminho e o seguro não quis arrumar. Deu o maior "B.O."! Ele não virá hoje. Parece que a lei de Murphy resolveu visitar o professor, né?

Peculiaridades: cuidado ao escolher um restaurante


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Estava no ônibus, semana passada, quando ouvi a conversa de dois garotos que estavam sentados no banco atrás de mim:

Garoto 1: Tá vendo esse restaurante? A gente não pode ir nele, nunca!
Garoto 2: Hein? Por quê?
Garoto 1: Porque isso nem é restaurante! — dizia num tom indignado.
Garoto 2:  Não entendi...
Garoto 1: Outro dia, o pessoal inventou de ir lá. A gente tava morrendo de sede. E aí pedimos refrigerante... E o cara falou que não tinha. Só tinha água.
Garoto 2: Nossa! — e começou a rir.
Garoto 1: Mas o pior foi que ele disse que só tinha água da torneira.

O garoto 2 começou a dar muitas risadas.

Garoto 1: Aí perguntamos o que tinha de lanche. E o cara me fala que só tinha X-Salada. Pô, que restaurante é esse que só tem água da torneira e X-Salada? Que deve ser de hamburguer podre, né? O pior de tudo é que só me faltava ele querer cobrar água da torneira! Aff, o povo inventa cada lugar pra comer e depois eu que me dou mal. Mas essa cidade é um lixo, viu?

Só sei que eu nunca irei naquele restaurante. Se é que dá pra chamá-lo assim. Atenção para não acabar almoçando X-Salada e água da torneira.

Má sorte?


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Quando algo terrível acontece justamente conosco, costumamos dizer que é falta de sorte. Mas com Nicole, não era apenas falta, mas sim uma maré de azar. Era atrapalhada e desorganizada. Sua vida parecia não ter um caminho certo, um objetivo.
Nicole odiava como vivia de modo desventurado. Era apenas olhar para ela, para perceber. Os cabelos castanhos desalinhados, uma combinação confusa e simples de roupas — usava um jeans velho e camisa xadrez, sem prestar muita atenção às cores e sem muitas opções de roupas, a maioria tinha manchas de molhos e refrigerante. Essa sua bagunça muitas vezes a impedia de ver no espelho a graciosidade dos traços delicados de seu rosto e de seus lindos olhos azuis. Seus planos sempre terminavam em desastres, confusões ou prejuízos.
Mas isso não era o pior. Nicole não tinha entusiasmo. Nada acontecia em sua vida e por isso ela foi desistindo de tudo. Desistindo da carreira, desistindo do amor... e tudo que o ser humano adora sonhar.
O que eu sei é que Nicole não era boa em matemática, ou física, porém era uma artista plástica nata. Queria ter sua própria coluna numa revista sobre artes.
"Isso é difícil demais para acontecer comigo..." — pensou.
E foi assim que o "azar" fez Nicole desistir.
Na hora do almoço do seu emprego quezilento, foi até a cafeteria, comprou chá gelado e tropeçou numa criança derrubando metade do copo em sua blusa e ainda levou uma bronca da mãe rabugenta. Costume. Cansada, sentou-se perto da janela e começou a observar as pessoas.
Entrou alguém que já conhecia de vista. Não sabia o nome, mas ele sempre aparecia. O ruivo sorridente, bonito e bem arrumado. De segunda a sexta ele passava ali. E ela até gostava. Mas hoje, ele estava diferente. Para a surpresa de Nicole, ele sentou-se. Ele nunca demorava mais de 5 minutos. E ele continuou ali. Nicole ficou acanhada. Ele estava próximo e poderia vê-la. Sentiu-se muito desarrumada para ser olhada por alguém. Rapidamente, pegou sua mochila e saiu. Derrubando algumas coisas pelo caminho, é claro.
No dia seguinte, voltou. No mesmo horário, ele já estava lá, com um notebook. E Nicole com seu caderno de desenho, resmungava consigo mesma.
— Só isso Nicole? — disse Lucas, seu amigo que trabalhava na cafeteria.
— Ahn, é. — ela revirou a mochila, não encontrava a carteira. — Ah, droga.
No mesmo instante, o ruivo parou de digitar e olhou para os dois. Levantou-se e foi até ela.
— Desculpe, eu estava ouvindo. — entregou uma nota para Lucas e sorriu — É horrível esquecer a carteira.
Nicole ficou espantada. Lucas riu:
— Acontece com ela pelo menos uma vez por semana. Quando ela não perde a carteira... Já trago o troco. — e saiu.
— Obrigada, mas eu pago pra ele depois. Não precisa se incomodar. Ele tá acostumado já com essas minhas...
— Relaxa, tá tudo certo. — interrompeu.
Nicole ficou parada.
— Sempre te vejo aqui.
— Me vê? — Nicole arqueou as sobrancelhas.
— Estamos sempre aqui no mesmo horário a tanto tempo, mas nunca nos falamos.
— Minha vida é meio desastrada.
— Ah, é. Eu acho você engraçada. Parece espontânea.
— Isso é uma forma gentil de dizer desajeitada?
Ele riu. Lucas voltou e entregou o troco.
— Aqui Diego. Valeu!
— Diego? — perguntou Nicole.
— Arrã. E você é?
— Nicole.
— Ah Nicole, infelizmente eu vou ter que ir. Mas nos encontramos amanhã, ok?
Ela mal conseguia responder. De repente... isso mesmo era real? "Amanhã... provavelmente estarei internada no hospital, do jeito que eu sou sortuda" — pensou ela.
Ele partiu. E ainda perplexa, lembrou-se de voltar a respirar.
No dia seguinte, mesmo depois de ter sido atropelada por uma bicicleta, Nicole chegou viva na cafeteria, com algumas manchas de graxa na barra da calça. Diego logo sentou-se com ela e começaram a conversar. E isso se repetiu por vários meses.
— Então, você não gosta do seu emprego? — objetou.
— Não... mas o que eu posso fazer?
— Nicole, eu não acredito. Quando eu observava você — isso fez o rosto de Nicole arder — te achava do tipo aventureira...
— O quê?! Rá, rá, rá... Eu tento preservar a minha vida!
— Que vida? Eu acabo de descobrir que você não tenta fazer nem o que gosta! Você não se arrisca!
— O que quer que eu faça? Eu já tentei...
— Você deveria confiar em você. Olha, eu trabalho numa editora. Seria tão fácil se você tentasse com confiança! Eu a ajudaria.
— É fácil pra você Diego. Pra mim, é difícil as coisas acontecerem.
— Porque você vê desse jeito. Você é quem deveria fazer a sua vida. Não o "azar"...
— Eu preciso ir...
Nicole sentiu-se péssima por causa da última conversa e não voltou a cafeteria naquela semana. Chegou a conclusão, que era uma ilusão imaginar que Diego gostaria dela um dia. "Mais uma derrota."
Na segunda-feira seguinte, quando chegou no escritório, ao colocar sua mochila na mesa, notou um post-it:

Você vê dificuldades ou possibilidades?
Eu vejo em você uma possibilidade.
Diego

Os pensamentos de Nicole entraram em choque. Esse tempo todo, ela nunca via uma possibilidade. Desceu até o térreo, precisava falar com Diego. Mas para sua surpresa, ele já estava a sua espera. Ela sorriu e finalmente enxergou que ele era sua oportunidade de mudar e tentar.
— Você é a minha possibilidade de ser melhor e mais feliz. — disse Nicole.
Demorou um tempo, mas Nicole tornou-se ilustradora de uma revista e mais tarde ganhou a sua coluna. Não deixou de queimar o bolo, quebrar os copos, machucar-se frequentemente ou esquecer a carteira. Afinal, era seu jeito esquecido e bagunçado. Que Diego adorava. E dessa vez quem perdia era a má sorte.

Mundo rotulador


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Quando você vai ao supermercado a procura de Toddy, você o identifica pelo rótulo. Mas e se um dia você compra seu Toddy e quando abre... Oh! Está cheio de marshmellows! Eu sei que não faz sentido, mas é o que nós acabamos fazendo com as pessoas. Colocando rótulos. 
Talvez você não saiba, mas existe até um nome bem culto pra isso: estereotipação. Figurativamente, estereotipar é tornar fixo, inalterável. Por exemplo, loiras são burras. Estilistas são gays. Políticos são ladrões. Coisas assim... 
Mas esquecemos que cada pessoa é única. Pode existir uma maioria, porém há uma minoria. E por que aqueles que fazem parte da minoria devem ser ignorados? Ei, eu sou diferente! Não quero ser generalizada! 
Então, imagine um mundo rotulador: onde todo mundo andasse por aí com um rótulo na testa e as pessoas se tratassem pelo que está escrito no rótulo e não pelo que realmente são.

— Emília, você vai contar essa história pra Carla? 
— Ela é minha superamiga! Precisa saber!
— Você tá louca? Olha lá, tá escrito fofoqueira. Não conta, não!

— Caramba, esse médico é formado na USP! Mas eu não vou me consultar com ele!
— Por que não?
— Você não leu a testa dele? É drogado!

— Credo, esse cara é tão mal humorado!
— Você devia andar com ele, é uma boa companhia.
— Ahn? Ele é tão ignorante. Me sinto mal perto dele.
— Claro que não. Ele é bem humorado. Você que não soube ler direito...

— Estou apaixonado pela Mônica!
— Você não vai se dar bem com ela.
— Mas ela é tão simpática!
— No rótulo diz arrogante...

Talvez você nunca encontre marshmellows dentro da embalagem de Toddy. Talvez você não goste de Toddy, então sempre irá ignorar seu rótulo. Mas com certeza encontrará uma surpresa em alguém. E conteúdo é o que convence.